Registro Histórico




RUA 13 DE MAIO (Antiga Rua Direita)

            A Praça do Santíssimo Salvador antigamente chamava-se Praça Principal, mas até 1830, só era denominada pelo único nome de Praça, porque até então não havi outra, como registra Júlio Feydit em seu livro “Subsídios para a História de Campos dos Goytacazes” (p. 180).
            Ayres Cabral (apud Feydit), escrevendo sobre a Vila de São Salvador, diz em uma nota da página 42 de sua Corographia Brasilica: “Salvador Correa mandou fundar no seu terreno, em 1652, uma ermida dedicada a São Salvador, e entregou-a ao cuidados dos MM. Beneditinos, fazendo-os de mais a mais (e bem injustamente) juízes eclesiásticos”. O grifo é do próprio Feydit, que se posicionava contrário à posição de beneditinos e jesuítas na questão fundiária na antiga Vila de São Salvador de Campos dos Goytacazes. (Página 258).
            Isso se leva a crer que já existiam, naquela época, as ruas Lacerda Sobrinho (Antiga Rua do Sacramento), Rua Descida da Praça (Atual Avenida Sete de Setembro e Antiga Rua das Flores), Rua Vigário João Carlos, que ligava o centro à Lagoa do Osório (Antiga Rua Detrás da Matriz e Rua Casa da Ópera) e o Boulevard Francisco de Paula Carneiro, que era onde iniciava a Rua 13 de Maio (Antiga Rua dos Mercadores e, depois, Rua de São Francisco, nome adquirido após a construção da igreja pelos padres capuchinhos), a partir de 1771. A cidade praticamente começou ali, até porque em 29 de maio de 1677, foi criada a Vila de São Salvador dos Campos dos Goytacazes.
            A Rua chegou a ser uma das mais importantes do Centro Histórico, principalmente no fim do século XVIII e primeira metade do Século XIX, porque abrigava a Igreja do Carmo, o Teatro São Salvador e a Igreja de São Francisco e, por ali, as pessoas rompiam para terem acesso à Estação da Avenida, instalada no Passeio Municipal (Junto à pracinha ao lado do Parque Alzira Vargas). O espaço era, também, predileto pelas classes mais aquinhoadas que ergueram ali suas suntuosas residências e casas comerciais, só que estas ficavam somente até a Rua Formosa.
            Cita Feydit (p. 280) que “em 1795 fez a Câmara o primeiro calçamento da Rua dos Mercadores, Rua Direita, que em ato de vereação de 16 de novembro de 1882 passou a denominar-se Primeiro de Março; e era 15 de Maio de 1888, por proposta do vereador Exequiel Sampaio, passou a denominar-se 13 de Maio, para comemorar a data da libertação dos escravos no Brasil”.
            O calçamento, segundo relata, “começava na Rua Manjerona, depois Rua das Flores e atualmente Sete de Setembro”. E dá um detalhe interessante: “Depois de feito esse calçamento, um pouco mais alto que o nível do terreno, para evitar as águas das cheias do rio, o Ouvidor José Pinto Ribeiro propôs à Câmara que fossem calçados os três becos: a do Dionísio, o de Francisco José Duarte e do Campelo”. Para quem ficou curioso de saber onde hoje se localizam os becos, o próprio Feydit explica:
            “O primeiro hoje (1900) é denominado Beco do Busca e não há registro do espaço nos dias de hoje; o segundo Beco do Constantino e, atualmente, Travessa Antonio Carlos; e o terceiro é hoje a Rua Nova do Ouvidor ou 21 de Abril”.
            O mais importante, no entanto, é o nome da Rua Direita, até hoje conhecida, ao menos pelos mais antigos. Era direita porque quem descia a Praça (Rua das Flores ou Sete de Setembro) pegava a Rua à Direita, justamente a hoje conhecida, desde a belle époque campista, segundo definição de Hervê Salgado Rodrigues (no livro “Campos – Na Taba dos Goytacazes”) o Boulevard da Imprensa, depois nominada de Boulevard Francisco de Paula Carneiro, uma homenagem ao Capitão Carneirinho, construtor do Trianon, em 1921.

Registro Histórico:

            O centro histórico da cidade de Campos dos Goytacazes foi praticamente consolidado, a partir do Plano Urbanístico do sanitarista Francisco Rodrigues Saturnino de Brito, planejado em 1902, muito embora as obras de organização urbana somente tenham sido iniciadas após 1906, como registra a pesquisa da Dra. Teresa de Jesus Peixoto Faria, no texto “As reformas urbanas de Campos e suas contradições”.
            Ela cita, em sua pesquisa, que havia, além da reformulação urbanística, a necessidade de resolver questões d falta de saneamento, responsável pelas epidemias, como a peste bubônica, que assolou o município, situação agravada pela grande enchente verificada naquele ano, resultando em inundações, o que levou o médico Dr. Benedito Pereira Nunes, idealizador da “cidade saneada”, a observar que, em 1906, nada tinha sido feito com relação ao projeto de Saturnino de Brito. E fez o seguinte discurso, publicado na Gazeta do Povo, solicitando a intervenção do Governo Federal:

Em 1901, quando presidia a Câmara Municipal de Campos, eu disse que, realmente, Campos, doada de uma natureza e de situação topográficas excepcionais e que poderia ser chamada a Sultana da Paraíba se transformou, por negligências da engenharia indígena e da edificação colonial numa cidade de ruas tortuosas, de becos e de ruelas escuras, cheia de casebres obscuros e insalubres, criando, assim, um ambiente de condições idênticas às das cidades asiáticas, onde a peste é endêmica. Os velhos casebres que existem ainda hoje e onde vive a classe operária pagando baixos alugueis, confirmam este estado de coisas. Atentados flagrantes às regras de higiene, legitimando de maneira criminosa o direito dos proprietários pouco escrupulosos, exploradores conscientes dos pobres moradores de casebres úmidos, verdadeiros pardieiros pagos com o suor das vítimas.


            Tetê Peixoto assinala: E é o próprio prefeito Ferreira Landim que, em novembro de 1906, anuncia, em discurso também publicado no mesmo jornal, no qual fala nas dificuldades para colocar a arquitetura de suas habitações de conformidade com os novos modelos em difusão: “O problema de salubridade das habitações exige, mais do que nunca, a atenção do poder municipal. É necessário melhorar as condições de higiene das casas, transformar o sistema de edificações, expurgar a cidade dos velhos casebres, focos de infecções de toda a espécie – da tuberculose e da peste, principalmente. No ano passado, fiz demolir nos termos da lei, 45 desses velhos pardieiros e as enchentes completaram, em parte, esta obra de saneamento (...)”. A reforma urbana na cidade de Campos dos Goytacazes obedecia, em tese, ao que era feito no Rio de Janeiro, nos tempos de Pereira Passos, por volta de 1904.
            Da lista de demolições de velhos edifícios, publicados em seu trabalho, que parecem prejudicar a imagem da cidade constam 32 demolições e foram condenados 16; construíram-se nove casas novas; 18 foram totalmente reconstruídas, e 16 parcialmente; foram feitos 48 grandes reparos e 217 pequenos reparos. E o Dr. Pereira Nunes, condenou a cidade “velha”, segundo ele, invadida por ratos. E reafirma que “Campos reclama de medidas como impermeabilização do solo e a abertura de áreas de circulação”,
            No documento, a pesquisadora salienta (...) O velho tecido urbano é transformado, progressivamente, graças às reformas que visam, além do embelezamento da cidade, dar-lhe uma melhor funcionalidade, adaptando-a aos interesses da economia capitalista e da burguesia em plena ascensão. Finalmente, neste começo do século XX, é necessário dotar a cidade dos símbolos do progresso e de uma imagem de modernidade.
            E ele descreve algumas mudanças operacionalizadas com as reformas do Plano Saturnino de Brito: “As Ruas: 21 de Abril, Sete de Setembro, Constituição (Rua Alberto Torres) e Formosa (Tenente Coronel Cardoso) foram alargadas; a antiga Praça das Verduras (Praça do Chá-Chá-Chá) foi urbanizada e transformada em praça de lazer; a Praça São Salvador, já com belo jardim, é ornamentada com uma fonte, os edifícios se renovam como o Renne, o Café High-Life,m Bom Marché e novos edifícios surgiram, como o do Banco do Brasil (1910), Associação Comercial de Campos (1913), Correios e Telégrafos e sede da Lira de Apolo (1917) e o antigo Teatro Trianon (1921). Desses citados, somente sobreviveram o Renne (com mudanças nos anos 50) e a Lira de Apolo (ora em restauração).
            Hoje, o conjunto de obras ecléticas, o maior do interior do Estado, praticamente está restrito às Ruas: 21 de Abril, Santos Dumont, Teotônio Ferreira de Araújo (antiga Barão de Cotegipe), Praça do Santíssimo, Sete de Setembro, 21 de Abril, Avenida Rui Barbosa, Rua 13 de Maio (antiga Rua Direita) e Rua Formosa (Tenente Coronel Cardoso), embora existam outros espécimes da época espalhados por outras artérias da cidade, atingindo até bairros mais distantes e em alguns distritos, como Goytacazes, Dores de Macabu, Murundu, Santa Bárbara, Vila Nova, Morro do Coco, Santa Maria e Santo Eduardo. Só para citar alguns...
            O centro histórico de Campos é, com outros avanços ocorridos nos anos 40, por intervenção da empresa Coimbra Bueno, nos tempos áureos do Prefeito Salo Brand, que era engenheiro, o que estabelece a Lei (Plano Diretor) 7.972, de 30/03/2008, quando se inicia, embora tardiamente, a se adotar uma política de preservação do patrimônio Histórico e Cultural do Município, cuidando de suas instâncias materiais e imateriais.
           

Inventário em: 20/10/2014 – Valdimir da Silva Salino
Fotografia:
Responsável: Orávio de Campos Soares

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